Normalmente, os trabalhos existentes  sobre a história dos correios nos outros países, começam invariavelmente com uma  introdução geral que consiste na justificação da sua importância social e da sua  longa evolução no tempo e no espaço. Historiam praticamente desde a  pré-história, através da comunicação oral e das inscrições rupestres, passando  pela antiguidade, onde se relatam as várias formas de comunicação à distância  desenvolvidas por quase todas as civilizações, até chegar a Idade Média, ou mais  precisamente em fins dela, no século XV.[1]
            Apesar deste alargado entendimento  do que consiste ser um serviço postal, parece-nos que melhor será definirmos  primeiro o conceito de correios no sentido mais próximo do que hoje o  conhecemos, ou seja, como uma instituição pública que se caracteriza basicamente  pela recepção, transporte e distribuição de correspondências, encomendas e  valores, através do pagamento de uma certa taxa. Desta forma, conceituar o que  seja um serviço de correios na Época Moderna – entre os séculos XV e XVIII –  reveste-se duma importância fundamental para que este serviço não seja  confundido com a simples troca de mensagens escritas ou orais, efectivadas em  quase todas as fases da civilização humana pelo mundo a  fora.
Assim sendo, o que normalmente é  caracterizado como aquele serviço antes do século XV, está na realidade muito  mais identificado com a primária necessidade humana de se comunicar à distância  através de um suporte escrito ou de uma terceira pessoa, de que são exemplos os  cursus publicus romanos e os arautos  das cortes medievais. Este processo de comunicação, sempre existiu em  praticamente todos os povos e em todas as épocas, onde facilmente se  identificarão espécies de “correios”  mais ou menos organizados. Outrossim, esses serviços cumpriam em regra apenas  uma necessidade de índole oficial ou corporativa, destinado sempre a servir um  grupo social específico e não a generalidade da população.
O serviço de correios, como  agora o conhecemos, tem a sua origem no desenvolvimento comercial surgido a  partir da Baixa Idade Média, bem como no processo de centralização política que  então se verificava em diversas regiões da Europa. Além disso, com a maior  disseminação da escrita e da evolução dos seus suportes, através do advento do  papel e da invenção da imprensa, vieram revolucionar os meios de transmissão de  ideias que tanto ajudou na divulgação dos valores humanistas da civilização  cristã ocidental da época do Renascimento. Nesse sentido, o que caracterizará o  serviço de correios na Época Moderna, será justamente a organização de um  circuito mais ou menos regular de transporte de correspondências, valores e  pequenas encomendas ao alcance da população em geral, através de um “correio  público”. Na sua origem, o serviço postal foi normalmente delegado por concessão  régia a um particular – o Correio-Mor –, onde o mesmo passava a possuir o  privilégio para a sua exploração através da criação de uma infra-estrutura de  recepção, transporte e distribuição de objectos postais. Todavia, ocorreu também  que algumas corporações mercantis, religiosas ou universitárias, tomassem a si a  organização duma estrutura postal independente da iniciativa régia e que  acabaram por tornarem-se em focos geradores de conflitos contra os direitos e  privilégios outorgados aos Correios-Mores.
Nessa perspectiva, será somente  com a possibilidade de acesso a esse serviço por parte de um público mais  diversificado e não só ao emprego do Estado ou de uma corporação, é que se  poderá definir a existência ou não de um sistema de correios efectivo. Por outro  lado, a falta de uma organização postal nunca impedirá a comunicação à distância  entre as pessoas, principalmente a partir do século XVI, mas sim a sua limitação  pela inexistência de canais regulares para a sua difusão. Assim sendo, não será  por mero acaso que foram criadas a partir das principais cidades europeias  integradas em importantes rotas comerciais, as primeiras linhas de correios que  mais se aproximam do que hoje conhecemos como tal. Um maior intercâmbio  comercial, pressupõe uma maior e melhor regularidade nas comunicações postais  para a difusão das notícias de ordem política, económica ou familiar,  necessárias a um melhor atendimento das demandas e necessidades mercantis. Em  suma, segundo observou Fernand Braudel,[2] no século XVI: “A notícia, mercadoria de luxo, vale mais do  que pesa em ouro”, sendo o seu valor variável conforme a maior ou menor  duração do percurso.[3]
            Dessa forma, dentre as primeiras  organizações postais criadas na Europa no início do século XVI, em pleno  renascimento e no meio de uma verdadeira revolução comercial, destaca-se a  organização da família Tour e Taxis, que uniu postalmente todo o velho  continente, através do vasto império da casa dos Habsburgos, chegando ao seu  auge durante o reinado do Imperador Carlos V.
Francisco de Taxis, foi o grande  impulsionador deste sistema. Nascido em 1459, em 1490 se estabeleceu em Malines,  na actual Bélgica, sendo mais tarde nomeado no ano de 1500, Mestre dos Correios  da Corte do Imperador Maximiliano. Por volta de 1516, Francisco de Taxis já  tinha organizado uma grande infraestrutura postal que, partindo de Bruxelas –  sede da Corte dos Habsburgos –, se ramificava por várias cidades onde possuía um  parente como Mestre dos Correios, tais como em Insbruck, Trento, Saragoça, Roma,  Veneza e Augsburgo. Desta forma, a maioria da correspondência que circulava  desde Londres à Granada, como entre Antuérpia e Viena, passavam necessariamente  pelos seus correios.[4] Assim sendo, será  neste contexto que em Portugal se criará o Ofício de Correio-Mor do  Reino.
[1] Como exemplos dentre muitos outros: Godofredo Ferreira, A Mala Posta em Portugal, Lisboa, 2ª ed. 1959; e Arthur de Rothschild, Histoire de la Poste aux Lettres, Paris, 2ª ed., 1873.
[2]  Fernand Braudel, O Mediterrâneo e o Mundo  Mediterrânico na Época de Filipe II, 2 vols., Lisboa, Pub. Dom Quixote,  1983.
[3]  Idem, vol. I,  p. 412.
[4] Cf. Berthe Delepinne, Histoire de la Poste  Internationale en Belgique sous les Grands Maitres des Postes de la Famille de  Tassis,Bruxelas, 1952, pp. 22 e 32. 
Sem comentários:
Enviar um comentário