terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Introdução
            Normalmente, os trabalhos existentes  sobre a história dos correios nos outros países, começam invariavelmente com uma  introdução geral que consiste na justificação da sua importância social e da sua  longa evolução no tempo e no espaço. Historiam praticamente desde a  pré-história, através da comunicação oral e das inscrições rupestres, passando  pela antiguidade, onde se relatam as várias formas de comunicação à distância  desenvolvidas por quase todas as civilizações, até chegar a Idade Média, ou mais  precisamente em fins dela, no século XV.[1]
            Apesar deste alargado entendimento  do que consiste ser um serviço postal, parece-nos que melhor será definirmos  primeiro o conceito de correios no sentido mais próximo do que hoje o  conhecemos, ou seja, como uma instituição pública que se caracteriza basicamente  pela recepção, transporte e distribuição de correspondências, encomendas e  valores, através do pagamento de uma certa taxa. Desta forma, conceituar o que  seja um serviço de correios na Época Moderna – entre os séculos XV e XVIII –  reveste-se duma importância fundamental para que este serviço não seja  confundido com a simples troca de mensagens escritas ou orais, efectivadas em  quase todas as fases da civilização humana pelo mundo a  fora.
Assim sendo, o que normalmente é  caracterizado como aquele serviço antes do século XV, está na realidade muito  mais identificado com a primária necessidade humana de se comunicar à distância  através de um suporte escrito ou de uma terceira pessoa, de que são exemplos os  cursus publicus romanos e os arautos  das cortes medievais. Este processo de comunicação, sempre existiu em  praticamente todos os povos e em todas as épocas, onde facilmente se  identificarão espécies de “correios”  mais ou menos organizados. Outrossim, esses serviços cumpriam em regra apenas  uma necessidade de índole oficial ou corporativa, destinado sempre a servir um  grupo social específico e não a generalidade da população.
O serviço de correios, como  agora o conhecemos, tem a sua origem no desenvolvimento comercial surgido a  partir da Baixa Idade Média, bem como no processo de centralização política que  então se verificava em diversas regiões da Europa. Além disso, com a maior  disseminação da escrita e da evolução dos seus suportes, através do advento do  papel e da invenção da imprensa, vieram revolucionar os meios de transmissão de  ideias que tanto ajudou na divulgação dos valores humanistas da civilização  cristã ocidental da época do Renascimento. Nesse sentido, o que caracterizará o  serviço de correios na Época Moderna, será justamente a organização de um  circuito mais ou menos regular de transporte de correspondências, valores e  pequenas encomendas ao alcance da população em geral, através de um “correio  público”. Na sua origem, o serviço postal foi normalmente delegado por concessão  régia a um particular – o Correio-Mor –, onde o mesmo passava a possuir o  privilégio para a sua exploração através da criação de uma infra-estrutura de  recepção, transporte e distribuição de objectos postais. Todavia, ocorreu também  que algumas corporações mercantis, religiosas ou universitárias, tomassem a si a  organização duma estrutura postal independente da iniciativa régia e que  acabaram por tornarem-se em focos geradores de conflitos contra os direitos e  privilégios outorgados aos Correios-Mores.
Nessa perspectiva, será somente  com a possibilidade de acesso a esse serviço por parte de um público mais  diversificado e não só ao emprego do Estado ou de uma corporação, é que se  poderá definir a existência ou não de um sistema de correios efectivo. Por outro  lado, a falta de uma organização postal nunca impedirá a comunicação à distância  entre as pessoas, principalmente a partir do século XVI, mas sim a sua limitação  pela inexistência de canais regulares para a sua difusão. Assim sendo, não será  por mero acaso que foram criadas a partir das principais cidades europeias  integradas em importantes rotas comerciais, as primeiras linhas de correios que  mais se aproximam do que hoje conhecemos como tal. Um maior intercâmbio  comercial, pressupõe uma maior e melhor regularidade nas comunicações postais  para a difusão das notícias de ordem política, económica ou familiar,  necessárias a um melhor atendimento das demandas e necessidades mercantis. Em  suma, segundo observou Fernand Braudel,[2] no século XVI: “A notícia, mercadoria de luxo, vale mais do  que pesa em ouro”, sendo o seu valor variável conforme a maior ou menor  duração do percurso.[3]
            Dessa forma, dentre as primeiras  organizações postais criadas na Europa no início do século XVI, em pleno  renascimento e no meio de uma verdadeira revolução comercial, destaca-se a  organização da família Tour e Taxis, que uniu postalmente todo o velho  continente, através do vasto império da casa dos Habsburgos, chegando ao seu  auge durante o reinado do Imperador Carlos V.
Francisco de Taxis, foi o grande  impulsionador deste sistema. Nascido em 1459, em 1490 se estabeleceu em Malines,  na actual Bélgica, sendo mais tarde nomeado no ano de 1500, Mestre dos Correios  da Corte do Imperador Maximiliano. Por volta de 1516, Francisco de Taxis já  tinha organizado uma grande infraestrutura postal que, partindo de Bruxelas –  sede da Corte dos Habsburgos –, se ramificava por várias cidades onde possuía um  parente como Mestre dos Correios, tais como em Insbruck, Trento, Saragoça, Roma,  Veneza e Augsburgo. Desta forma, a maioria da correspondência que circulava  desde Londres à Granada, como entre Antuérpia e Viena, passavam necessariamente  pelos seus correios.[4] Assim sendo, será  neste contexto que em Portugal se criará o Ofício de Correio-Mor do  Reino.
[1] Como exemplos dentre muitos outros: Godofredo Ferreira, A Mala Posta em Portugal, Lisboa, 2ª ed. 1959; e Arthur de Rothschild, Histoire de la Poste aux Lettres, Paris, 2ª ed., 1873.
[2]  Fernand Braudel, O Mediterrâneo e o Mundo  Mediterrânico na Época de Filipe II, 2 vols., Lisboa, Pub. Dom Quixote,  1983.
[3]  Idem, vol. I,  p. 412.
[4] Cf. Berthe Delepinne, Histoire de la Poste  Internationale en Belgique sous les Grands Maitres des Postes de la Famille de  Tassis,Bruxelas, 1952, pp. 22 e 32. 
A Criação do Ofício de Correio-Mor do Reino
            “Senhor, por um correio que daqui partiu  sete ou oito dias há, escrevi a Vossa Alteza tudo o que até aqui era passado e  entre outras algumas cousas lhe escrevi como Luís Homem chegara a esta Vila de  Bruxelas a 17 dias deste mês de Março, às 8 horas do dia; e por conta acháramos  que não pusera no caminho que pouco mais de catorze dias e meio, se partiu a  dois dias de Março como me o secretário escreveu, ainda que ele diz que ele  partira a 3 do dito mês. Como quer que seja, fez mui grande diligência segundo  cá dizem todos os que sabem de postas e isto pelo mal aviamento que tem em  Portugal, porque doutra feição, não seria muito ir em dez dias se tivesse o  aviamento que tem por França, porque em cinco dias vai uma posta daqui a Burgos  que são trezentas léguas. E por ele recebemos todas as cartas que nos por ele  mandou Vossa Alteza, as quais mui bem vimos e entendemos e em todo, Senhor, se  fará como manda e ordena.”[1]
A elogiosa menção feita nesta carta ao bom trabalho  desempenhado por Luís Homem, que viria a ser em breve tempo o primeiro  Correio-Mor do Reino, faz-nos antever a importância duma personagem que já há  alguns anos vinha dando provas de dedicação e fidelidade ao seu soberano não só  como mensageiro real em serviço pela Europa afora, mas também como soldado no  longínquo Oriente. Provavelmente de uma origem modesta, Luís Homem era criado do  Rei D. Manuel por volta de 1512, não possuindo ainda por essa altura, qualquer  estatuto de nobreza.[2] Contudo,  anteriormente àquela missão em Flandres, desempenhara – ainda que  involuntariamente – o papel de correio de boas novas ao se encontrar na Índia  quando no final do ano de 1510, Afonso de Albuquerque conquistou definitivamente  a Cidade de Goa.
             Embarcando na armada comandada pelo Capitão-Mor Gonçalo de Sequeira,  composta por sete naus e que em Março desse ano de 1510 partira de Lisboa com  destino à Índia para o carregamento das especiarias;[3] Luís Homem chegará  a Cananor em 8 de Setembro do mesmo ano,[4] justamente quando  o Governador Afonso de Albuquerque se preparava para retomar a Cidade de Goa,  depois de uma primeira tentativa frustrada de conquista no início daquele ano.  Como Condestável de Bombardeiro, Luís Homem fazia parte da tripulação da Nau  “Flamenga” pertencente ao mercador português Tomé Lopes[5] e a outros  armadores.[6] Esta nau, muito  provavelmente, era a que fora comandada por Lourenço Lopes,[7] que também era um  comerciante português, mas estabelecido na Flandres. Por sua vez, ele era  sobrinho de um outro Tomé Lopes de Andrade, que fora Feitor em Antuérpia e  posteriormente Feitor da Casa da Índia, além de Embaixador de D. Manuel junto à  Corte de Brabante,[8] e de quem o futuro  Correio-Mor foi mensageiro quando da sua missão naquela Corte, conforme veremos  mais adiante.
            A  julgar pela qualificação de Luís Homem como comandante dos bombardeiros daquele  navio, sem dúvida alguma ele poderia ter sido muito útil na reconquista de Goa,  contudo, tal não aconteceu. Durante a reorganização das forças para um novo  ataque àquela cidade, Afonso de Albuquerque procurou auxílio nas armadas  recentemente chegadas de Lisboa. Para além da frota capitaneada por Gonçalo de  Sequeira, em que vinha o nosso futuro Correio-Mor, chegara uma outra composta  por quatro naus sob o comando de Diogo Mendes de Vasconcelos, e que tinha por  destino o porto de Malaca.[9]
            Num  Conselho reunido em Cochim por Afonso de Albuquerque, entre os capitães-mores  das armadas e os outros comandantes dos navios, houve grande divergência de  opiniões quanto a atitude a ser tomada, tanto em relação ao projecto de  reconquista de Goa – defendida por Albuquerque – como em relação ao cumprimento  das instruções régias no tocante aos objectivos daquelas armadas.[10] Contudo, ficou  estipulado que a Armada de Malaca, comandada por Diogo Mendes de Vasconcelos,  auxiliaria Afonso de Albuquerque naquela empresa pois o Governador da Índia  prometera a aquele comandante que depois daquela missão o auxiliaria na viagem  até Malaca, o que de facto veio ocorrer no ano seguinte, altura em que o mesmo  Afonso de Albuquerque acabaria afinal por também conquistar aquela estratégica  cidade asiática.[11]
            Quanto  a armada comandada por Gonçalo de Sequeira – aonde se encontrava o nosso futuro  Correio-Mor Luís Homem – o seu comandante, bem como os outros capitães dos  navios, recusaram-se a participar do projecto. Alegaram como razão principal o  facto da armada ser composta exclusivamente por naus de mercadores, que por  contrato com os feitores que os representavam naquela viagem, não quereriam  atrasar os seus negócios nem participar numa empresa que poria em risco o  objectivo principal daquela missão, que visava somente a aquisição das preciosas  especiarias.[12]
            Esta  atitude veio indispor Afonso de Albuquerque com Gonçalo de Sequeira,[13] tendo o  governador sentenciado que mesmo antes da armada se abastecer das especiarias,  teriam eles conhecimento da conquista e seriam os portadores da notícia para o  Reino, pois “que nestas naus havia de  mandar recado a El-Rei que ele ficava descansando dentro na Cidade de  Goa”.[14] Afirmou ainda  Albuquerque, que eles arcariam com a responsabilidade de perderem uma  oportunidade de servirem ao seu soberano, acrescida da vergonha de não  participarem de um tão grande feito.[15] O governador – de  espírito mais guerreiro do que comercial – chegou ainda a queixar-se ao monarca:  “se Vossa Alteza quer ser rico, não  venham cá naus de mercadores para o negócio da Índia, naus há nela que abastem  se lhe mandardes muitas lanças e muitas armas”.[16] Bem gostaria D.  Manuel de seguir esse conselho chegando a responder “que assim se fará, prazendo a Deus”.[17] Contudo, a  debilidade financeira da Coroa frente ao audacioso projecto do tráfico indiano,  já não podia dispensar o patrocínio dos particulares no lucrativo comércio  asiático.[18]
             Reconquistada definitivamente a Cidade de Goa em 25 de Novembro de 1510 e  confirmando-se a profética previsão de Afonso de Albuquerque, a Armada de  Gonçalo de Sequeira e com ela o nosso futuro Correio-Mor do Reino, acabaram por  trazer de facto a Lisboa os maços de cartas com as notícias da importante  conquista, bem como sobre outros assuntos e providências tomadas a respeito do  império que então se construía, e que agora já possuía a sua sede.[19]
             Chegando a Portugal em meados do ano de 1511,[20] Luís Homem  viajará em seguida para a Flandres onde, possivelmente, acompanhou as  especiarias pertencentes à Coroa vindas naquela viagem e que eram na sua maior  parte negociadas naquela região através da Feitoria Portuguesa de Antuérpia.  Isto é o que se poderá deduzir de um mandado de D. Manuel datado de 18 de Agosto  de 1512,[21] na qual se refere  a chegada de Luís Homem a Lisboa, vindo da Flandres, donde trazia a fazenda real  e que deveria consistir no produto da venda de parte daquelas  mercadorias.
            Neste  mesmo documento fica patente o valimento que Luís Homem já possuía junto ao  monarca, pois para além da confiança nele depositada para trazer o seu dinheiro,  D. Manuel ordenava ao Feitor e mais Oficiais da Casa da Índia que pagassem logo  a Luís Homem, em pimenta, o que lhe ficasse líquido dos trinta e quatro quintais  que trouxe na nau em que fora à Índia, para que ele a pudesse levar consigo à  Flandres aonde era novamente enviado a serviço do rei.[22]
            Este  pagamento em pimenta correspondia à sua “quintalada e camarote” a que Luís Homem  tinha direito em consequência da sua viagem ao oriente, e que era uma forma de  incentivo dado pela Coroa a quem participasse no grande projecto das navegações  dos descobrimentos. Consistia em uma parte do seu soldo a ser pago sob a forma  de licença de importação para a metrópole de certa quantidade de especiarias  compradas com o seu próprio dinheiro, mas livre de frete. Estas mercadorias eram  arrumadas em câmaras reservadas à tripulação do navio e que variavam de tamanho  conforme a categoria do tripulante. No caso de Luís Homem, como Condestável de  Bombardeiro, teve ele direito de trazer cinco quintais e duas arrobas de  pimenta. Tendo, porém, comprado também os lugares das quintaladas de outros onze  tripulantes do navio em que viajava, totalizou o direito a trinta e quatro  quintais os quais após abatida a quebra de 10% e o “quarto e vintena” –  correspondente aos direitos de alfândega –, se traduziram num valor líquido de  vinte quintais, duas arrobas e vinte arráteis de pimenta, com que ele próprio  levará à Flandres.[23]
             Note-se que a concessão dada a Luís Homem de poder levantar a sua parte  em pimenta, consistia uma excepção. A partir de 1504 um novo regime comercial  entrou em vigor através do monopólio real e todas as especiarias descarregadas  em Lisboa passaram obrigato-riamente a dar entrada na Casa da Índia que, por sua  vez, as negociava a preço único. Somente depois de vendidas é que era então  entregue o valor em dinheiro, correspondente ao que cada mercador possuía lá  depositado.[24] Desta forma, Luís  Homem obteve o raro privilégio de poder negociar directamente na Flandres o  preço da sua mercadoria, conseguindo assim uma melhor remuneração do seu  investimento.
            Nessa  época a Cidade de Antuérpia era já o principal centro distribuidor das  especiarias e dos produtos coloniais portugueses no norte da Europa, e onde  Portugal possuía uma importante comunidade de mercadores reunidos em torno da  Feitoria Portuguesa, que por sua vez servia como uma representação comercial e  diplomática da Coroa naquela região. Os portugueses formavam uma das principais  “nações” estrangeiras naquela cidade, possuindo vários privilégios e isenções  outorgadas pela casa reinante dos Habsburgos. Assim sendo, será nesse ambiente  de intenso tráfego comercial - em que Luís Homem também participou - que se  estabelecerão as mais estreitas relações diplomáticas entre a Corte Portuguesa e  a Casa da Áustria. Tais relações terão ainda como consequência, um constante  intercâmbio de correspondência epistolar entre Portugal e a  Flandres.
            Nesse  sentido, D. Manuel enviará em finais de 1514 à Corte do seu primo direito, o  Imperador Maximiliano de Habsburgo - pois eram ambos netos do Rei D. Duarte -, o  Feitor da então opulenta e poderosa Casa da Índia, Tomé Lopes de Andrade, com  amplos poderes sobre a Feitoria Portuguesa de Antuérpia.[25] Esta missão  visava negociar com os grandes potentados do comércio e das finanças alemães  (Fugger, Hochstetter e Welser) o fornecimento de cobre para suprir as  necessidades das Armadas da Índia e do comércio oriental. Por outro lado, visava  também tratar de questões políticas junto ao Imperador, relativas às negociações  sobre o casamento da Infanta D. Leonor, sua neta, com o Príncipe herdeiro  Português D. João, e da irmã deste, D. Isabel, com o seu outro neto e futuro  Imperador, o Arquiduque Carlos de Áustria.[26]
            Tomé  Lopes de Andrade – já referenciado no início deste capítulo – havia sido Feitor  em Antuérpia entre 1498 e 1505, justamente no tempo em que chegaram àquela  cidade os primeiros navios portugueses carregados de especiarias asiáticas e  quando por isso ali se firmou o primeiro contrato de venda daquele produto  naquela região, no ano de 1503.[27] Mercador  experiente e arguto diplomata, era muito considerado na Corte de Brabante aonde  fora também enviado como Embaixador entre 1509 e 1511, tendo negociado o  importante acordo concedendo o estatuto de “nação” mais favorecida aos  portugueses residentes naquela cidade, no qual igualmente ficava garantida uma  casa para sede da Feitoria, mediante uma doação da municipalidade de  Antuérpia.[28]
            Quando  da sua chegada à Augsburgo em Maio de 1515, Tomé Lopes refere em carta a D.  Manuel, que “Quando passei por esta  cidade para ir ao Imperador, os governadores dela e assim os Fugger,  Hochstetter, Welser e todas as outras companhias e mercadores, me fizeram muita  honra e me enviaram muitos presentes; e assim o fizeram quando tornei com o  Imperador.” Nesta mesma carta, numa clara alusão ao prestígio que Portugal  alcançara na cena internacional daquele tempo, concluía: “O Imperador toma grande passatempo em saber  das cousas da Índia e dos reis que são sujeitos a Vossa Alteza, e há por mui  grande feito a guerra de África, assim no Reino de Fêz, como no de Marrocos,  sobre que muito me tem perguntado tudo. Os senhores e povos não falam em nenhuma  cousa tanto, como em estas conquistas de Vossa Alteza.”[29] Já em Agosto do  mesmo ano de 1515, Tomé Lopes comunicava a D. Manuel que aguardava a chegada do  Imperador, que vinha de Viena, para se despedir[30] e seguir para  Bruxelas aonde se avistaria com o neto de Maximiliano, o Arquiduque Carlos de  Áustria, soberano dos Estados de Brabante e herdeiro presuntivo do trono de  Espanha, por ser o filho mais velho de Joana a Louca e esta a única filha dos  Reis Católicos.
             Entretanto, pouco depois, a 23 de Janeiro de 1516, faleceu o Rei  Espanhol, Fernando o Católico, causando grande apreensão na Corte Portuguesa  manifestada através das cartas régias datadas de 1º de Fevereiro daquele ano e  enviadas aos governadores das diferentes fortalezas do Reino, para que as  guardassem e velassem com toda a segurança e cuidado.[31] A sucessão ao  trono de Castela revelou-se uma questão delicada vista a herdeira directa, Joana  a Louca, estar internada como incapaz em Tordesilhas e o seu jovem filho e  herdeiro, Carlos – então soberano de Brabante – se encontrar em Bruxelas. Pelo  testamento do falecido rei ficava nomeada uma regência para governar em nome do  seu neto, o Arquiduque de Áustria, até a sua chegada à Castela, para ser jurado  em Cortes conforme a tradição espanhola. Contudo, os acontecimentos  precipitaram-se e Carlos apressou-se em tomar o título real em Março do mesmo  ano de 1516, estando ainda em Bruxelas, para assim poder negociar em melhores  condições a paz com Francisco I, Rei de França, que viria a ser o seu principal  rival na cena internacional. Porém, tal atitude causou algum descontentamento e  apreensão em Espanha, resultantes da expectativa da sua vinda sempre adiada para  tomar posse daquele Reino, facto que só viria a ocorrer em 7 de Fevereiro de  1518. Assim, será nesse clima de instabilidade e incerteza que o Rei D. Manuel  procurará saber através dos seus servidores na Flandres e em Castela, de todas  as notícias relacionadas com o desenrolar dos acontecimentos, de forma a levar a  bom termo a sua política europeia,[32] justamente num  momento em que o seu império colonial se encontrava em grande expansão noutras  partes do mundo. Desta forma, surgirá novamente Luís Homem como elo de ligação  entre a Corte Portuguesa e os seus correspondentes no  estrangeiro.
            Nesse  sentido, os contactos de Tomé Lopes em Bruxelas com o jovem Rei Espanhol e os  seus mais próximos Conselheiros, nomeadamente o Monsenhor de Chièvres, Guilherme  de Croy; o Grão Chanceler de Borgonha, Jean Le Sauvage; e em especial um dos  Secretários daquele monarca, o Português Cristóvão Barroso,[33] revestiram-se de  uma enorme importância naquela conjuntura. A confirmar este facto, veja-se a  carta de um dos correspondentes de D. Manuel na Flandres, Rui Fernandes de  Almada, onde se afirma que o enviado português “tem grande crédito com estes que governam,  ajudou aqui a muitos, é grande amigo do Conde Dom Fernando[34] e assim de  todos”.[35] Num primeiro  momento, foi intenção de D. Manuel que o seu enviado à Corte de Brabante  retornasse o mais depressa possível a Portugal, depois de prestar as  condolências ao novo rei pela morte do seu avô e de saber quando seria a sua  intenção de vir à Castela tomar posse daquele reino.[36] Ocorreu, porém,  que o Secretário do Soberano Espanhol comunicasse a Tomé Lopes que o próprio rei  teria muito gosto com os casamentos em perspectiva, notícia esta que o enviado  português transmitiu imediatamente a D. Manuel, através de Luís Homem, que  rapidamente partiu para Portugal com as importantes novidades.[37]
            Para  uma maior diligência na sua viagem, Luís Homem irá aproveitar a estrutura  montada por Francisco de Taxis, Mestre dos Correios da Corte do Imperador  Maximiliano, e o maior representante duma família que se transformará em  sinónimo de “correios” por toda a Europa.[38] Tendo sido  encarregado pelo Imperador de criar uma rede de ligação postal dentro das  fronteiras do vasto Império da Casa dos Habsburgos - como já foi referido - por  volta de 1516 havia Francisco de Taxis organizado várias carreiras de postas  centralizadas em Bruxelas, donde partiam correios com alguma regularidade para  Viena, Roma e Madrid. Estas carreiras consistiam numa série de cavalariças  dispostas ao longo do caminho (postas), onde um Mestre chamado “de Posta” tinha  como obrigação haver sempre pronto um certo número de cavalos para serem  alugados aos correios ou a viajantes, os quais por sua vez, eram revezados nas  postas seguintes. Luís Homem seguirá justamente pela carreira de Madrid, tendo  percorrido sessenta e oito mudas de postas entre Bruxelas e Burgos, ao custo de  um cruzado por cada uma. Em Burgos adquiriu um cavalo por quinze cruzados, com  que seguiu então até Almeirim aonde se encontrava a Corte Portuguesa. Luís Homem  gastara ao todo no caminho – com mais cinco cruzados para a despesa da sua  pessoa – oitenta e oito cruzados, dos quais uma parte lhe tinha adiantado Tomé  Lopes em Bruxelas. Esta quantia foi mandada saldar por carta régia de 11 de  Abril de 1516, pela qual D. Manuel ordenou a Silvestre Nunes, então Feitor na  Flandres, que pagasse a ambos o que lhes era devido.[39]
             Entretanto, Tomé Lopes adoecera gravemente “aguardando cada hora por Luís Homem”.[40] Embora tentando  voltar o mais rapidamente possível à Flandres com a correspondência real, o  futuro Correio-Mor do Reino viu-se atrasado levando aproximadamente dois meses  para chegar a Antuérpia, pois “veio ter à  Baiona e esteve aí muitos dias aguardando por tempo, e daí veio ter a Inglaterra  e disse veio por terra [sic] até esta  Vila”.[41] Na sua chegada  encontrou Tomé Lopes moribundo, mas ainda em condições de lhe passar uma  declaração em 20 de Junho do mesmo ano de 1516, do gasto de mais vinte cruzados  que teve na sua viagem, “no qual caminho  e passagem fez muito mais despesa”.[42]
            Tomé  Lopes veio a falecer uma semana depois, a 28 de Junho, ocorrendo não serem  entregues as cartas do Monarca Português ao jovem Rei Espanhol e nem aquela para  os seus Conselheiros, caso que muito desconsolou D. Manuel, pois “bem nos provera serem dadas nossas cartas  ao menos por não passar tantos dias sem serem lá sabidos nossos recados”.[43] Esta decisão fora  tomada por Lourenço Lopes, já nosso conhecido, sobrinho do falecido Feitor da  Casa da Índia e antigo comandante da Nau Flamenga da Armada de Gonçalo de  Sequeira – a mesma em que Luís Homem servira como Condestável de Bombardeiro –  que julgou melhor recambiar a correspondência para Portugal, tendo em vista a  delicadeza da situação. D. Manuel, compreendendo a atitude de Lourenço Lopes, o  fez suceder ao seu falecido tio nesta Missão tornando a enviar Luís Homem à  Flandres com as mesmas instruções e cartas que enviara a Tomé Lopes, assim como  ao Rei de Castela e a seus Conselheiros, em 20 de Julho do mesmo ano de 1516.[44] Nelas, D. Manuel  respondia ao Secretário do Rei Espanhol, Cristóvão Barroso, que sobre os  casamentos projectados entre os príncipes de ambas as Coroas, “que por este negócio ser da qualidade que  vedes e de tanta importância, que convém ser praticado e falado por pessoa de  que tanta confiança se tenha como o caso o requer [...] E a pessoa que assim havemos de enviar,  temos já ordenada e se despacha e faz prestes, para logo após este se  partir.”[45] Tratava-se de  Pedro Correia, do Conselho do Rei, Fidalgo da Casa Real e Senhor de Belas,  descendente de antigos servidores da família de D. Manuel enquanto Duques de  Beja, e amigo pessoal de Afonso de Albuquerque.[46] Para além de  Pedro Correia, como Embaixador, faziam parte da comitiva João Brandão (que fora  e tornaria a ser Feitor em Antuérpia, e autor do extracto da carta com que  iniciamos este capítulo), como Escrivão da Embaixada, bem como Luís Homem, que  iria servir como Correio. A Lourenço Lopes, recomendou D. Manuel que auxiliasse  o embaixador no que fosse necessário.[47]
             Havendo partido a Embaixada de Lisboa somente a 15 de Outubro de 1516,  sucedeu neste meio tempo um facto que julgamos determinante no desenrolar desta  Missão diplomática. Aproxima-damente um mês antes da partida, a 8 de Setembro,  nascera o Infante D. António, décimo filho do Rei D. Manuel com a sua segunda  mulher a Rainha D. Maria, que tendo sido baptizado dois dias depois e sem  cerimónias “por o Infante estar  doentinho”, veio a falecer a 1º de Novembro seguinte.[48] Damião de Góis  relata na sua Crónica que “a Rainha Dona  Maria ficou tão mau tratada do parto do Infante Dom António, que até à hora da  morte nunca se mais achou bem porque se lhe gerou uma apostema dentro nas  entranhas, sem em toda a medicina haver cousa que lhe pudesse dar saúde, pelo  que procedendo esta má disposição com que se lhe acrescentavam de dia em dia  gravíssimas dores, faleceu em Lisboa nos Paços da Ribeira aos sete dias do mês  de Março do ano do Senhor de mil quinhentos e dezassete, em idade de trinta e  cinco anos”.[49] Assim sendo,  quando da partida da Embaixada de Pedro Correia, perspectivava-se já na Corte a  possibilidade de uma nova viuvez de D. Manuel, facto este que veio a ocorrer  seis meses depois ainda durante a permanência da embaixada na Flandres, que só  viria a concluir-se em 15 de Abril daquele ano de 1517.[50]
            Pedro  Correia e sua comitiva seguiram por terra até Paris, aonde se avistaram com o  Rei de França Francisco I, que recentemente assinara em Noyon, a 13 de Agosto de  1516, o almejado tratado de paz com o novo Monarca Espanhol Carlos I. Em seguida  continuaram a viagem até ao seu destino, a Corte de Bruxelas, onde finalmente  chegaram a 8 de Janeiro de 1517.[51] Lá, o Embaixador  Português escreveu a 13 de Janeiro a sua primeira carta relatando as  conversações iniciais que tivera com algumas personagens que se encontravam  naquela Corte, e na qual constava que em relação aos casamentos em perspectiva,  “todos hão por certo que eu não venho a  outra cousa senão a isso e estão mui ledos com a minha vinda”. Cristóvão  Barroso, Secretário do Rei Espanhol e principal interlocutor do assunto,  acrescentava ainda “que se eu nisso não  falar, que mo não hão de cometer nem tocar, pela vergonha que cá entre eles é as  mulheres cometerem os homens”.[52] Na realidade, tal  observação significava muito mais que apenas um escrúpulo protocolar ou social.  A posição dos negociadores flamengos era no sentido de procurar uma forma  vantajosa de iniciar as difíceis discussões sobre os dotes dos casamentos e de  valorizar ao máximo a aliança que surgiria entre as duas Coroas com aqueles  enlaces. Por outro lado, essa postura traduziria também uma atitude de afirmação  política por parte da Casa de Habsburgo face a sua crescente posição na Europa,  e que a breve tempo se prolongaria para o resto do mundo. Não obstante, as  instruções de Pedro Correia eram no sentido de esperar pela oferta espontânea da  mão de Madama Leonor, tendo em vista os contactos já efectuados com o falecido  Tomé Lopes e do longo tempo em que se vinha trabalhando nesse assunto.[53] Por outro lado, o  embaixador assinalava também na sua carta, que a concretização desse casamento  passaria por uma elevada despesa pecuniária com os intermediários do negócio,  pois “este uso de se fazerem as cousas  por dinheiro, anda cá mui praticado”. Pedro Correia tivera informações de  pessoa muito próxima ao Imperador Maximiliano, que em relação aos casamentos,  ele “desejava muito de se fazerem e que  seria bem Vossa Alteza dar XXX mil cruzados a Chièvres por consentir  nisso”.[54]
            Noutra  carta de 5 de Fevereiro de 1517, o Embaixador Português ao relatar a sua  primeira audiência com o jovem Soberano Espanhol que ainda não completara 17  anos de idade, observa que “os negócios  de cá todos são na mão de Chièvres e do Chanceler”,[55] sendo somente  através deles que se resolveria algum assunto. Desta visita comenta o Embaixador  que “El-Rei tem mui boa disposição de  corpo e é gentil homem de rosto, pero na boca tem alguma desgraça por não chegar  bem um beiço ao outro; fala mui pouco e a meu parecer não tem a língua bem  despejada; não entende em negócios senão quando alguma hora o Chièvres chama e  faz estar em alguma; sua ocupação principal é brincar com flamengos sem querer  que castelhanos nisso entrem, antes me dizem que lhe aborrecem; não fala nada  espanhol nem creio que o entende, senão se for algumas poucas palavras”. Com  relação a almejada noiva, descreve ainda que “Madama Leonor não é mui formosa nem lhe  podem chamar feia, tem boa graça e bom despejo, e parece-me de condição branda e  avisada; não tem bons dentes e é pequena de corpo, e pareceu ainda mais porque  cá não trazem chapins que passem da altura de dois dedos; é grande dançarina e  folga de o fazer”. A estas considerações, acrescenta Pedro Correia  enfaticamente que “toda esta Corte há por  cousa mui certa que eu não venho a al senão a seu casamento e falam nisso  publicamente, tendo sabido que ela e todos os de sua casa o desejam quanto é  razão, e parece-me que ficariam mui desconsolados se soubessem como a isso não  são vindo.”[56] Logo em seguida,  a 8 de Fevereiro, o Embaixador teve a sua primeira entrevista com o Imperador  Maximiliano na Cidade de Antuérpia, no qual encontro o Imperador nunca referiu o  assunto dos casamentos em causa. Assim, depois destes primeiros contactos e não  havendo da parte daquela Corte nenhum sinal claro sobre o início das  negociações, determinou Pedro Correia “não deter mais Luís Homem”.[57] Para isso tinha  já ordenado ao Feitor de Flandres, Silvestre Nunes, que lhe entregasse cem  cruzados “como lhe já outras vezes foram  dados para fazer o dito caminho”.[58] Partindo para  Portugal no dia 9 de Fevereiro de 1517, o futuro Correio-Mor chegará a Lisboa  por volta do dia 26 de Fevereiro.
            D.  Manuel – avaliando a reacção do Rei de Castela e de seus Conselheiros à  Embaixada que lhe enviara – resolveu responder a Pedro Correia que “vendo como por ele ou da sua parte vos não  foi falado no negócio dos casamentos nem também o Imperador, pois aí se  acertaria”, ordenava “que vós não  façais lá mais detenção nem falais em cousa alguma tocante aos ditos  casamentos”. No caso de haver por parte de algum dos Conselheiros Régios  alguma insistência em iniciar as negociações depois desta notícia, que então “trabalhareis o que puderdes de saber de  vosso, pela melhor maneira que vos parecer, o que se fará no dote”,  acrescentando “que pois tanto se afirma a  vinda Del-Rei este Verão à Castela, ele devia folgar de trazer consigo Madama  Leonor, sua irmã, porque ordenando Nosso Senhor neste casamento se entender,  estivesse cá mais perto”.[59] Munido destas  instruções e de outras cartas com que o Rei D. Manuel mandava ao seu Feitor em  Antuérpia recompensar pecuniariamente e através de promoções em cargos, várias  personagens que auxiliaram aquela embaixada, retornou Luís Homem à Flandres em 3  de Março de 1517. Tendo chegado à Bruxelas a 17 do mesmo mês,[60] levou ao todo  somente 37 dias na sua missão de levar as correspondências e voltar com as  respostas. Entretanto, apesar dessa eficiência, ele reclamará cerca de um ano  depois, que Pedro Correia tinha mandado descontar do seu salário “certo tempo que gastei em vir cá a Portugal  com cartas a Sua Alteza, o qual tempo ainda me devem”.[61] A verdade, porém,  é que ao ter demonstrado mais uma vez a sua vocação para o serviço postal, viria  em breve a ser recompensado pela sua dedicação e  fidelidade.
            Por  seu lado, as novas instruções de D. Manuel causaram uma surpresa geral, a  começar no próprio embaixador que escreveu: “ainda que sempre me pareceu que Vossa  Alteza não voava de boa vontade esta perdiz, algum tanto estava descuidado de me  mandar assim ir sem passar mais avante no negócio”, acrescentando que quando  falou da sua ida ao poderoso Monsenhor de Chièvres e ao Chanceler Le Sauvage, “ficaram tão enleados que não puderam  dissimulá-lo”.[62] Rui Fernandes de  Almada, que acabava de ser nomeado Escrivão da Feitoria de Flandres, escreveu  também: “Aqui soube do descontentamento  que estes homens todos têm por Vossa Alteza mandar ir o embaixador, porque certo  eles sempre cuidaram que ele vinha ao que todo mundo presumia” e que somente  “eles aguardavam a vinda de Luís Homem  para que se abrisse caminho”.[63]
            Esta  notícia, provavelmente, foi bem recebida por Francisco I de França. Isto porque  – conforme a opinião de Pedro Correia – o mesmo observara nas conversações que  tivera naquela Corte, o desagrado com os casamentos planeados pois que lá  estariam mais interessados em enfraquecer as novas alianças do Rei de Espanha,  do que propriamente incentivá-las.[64] Porém, por uma  ironia do destino, a futura Rainha D. Leonor – após enviuvar do Rei Português –  viria a fazer novo casamento em 1530, justamente com Francisco I. Seria este  enlace uma das consequências do Tratado de “Paz das Damas”, assinado em  Cambraia, entre os eternos rivais Carlos V e aquele Soberano  Francês.
            Depois  de despedir-se dos Monarcas Habsburgos e seguindo as instruções que recebera,  retornou Pedro Correia com a sua comitiva a Portugal, passando primeiramente por  Inglaterra para cumprimentar Henrique VIII em nome de D. Manuel, e em seguida  novamente por França para mais uma vez se avistar com Francisco I.[65] Terminava assim,  a pouca conhecida Embaixada Portuguesa aos principais Soberanos Europeus daquele  tempo.[66] Para Luís Homem,  essa Missão Diplomática serviu para demonstrar mais uma vez as suas capacidades  como mensageiro real, além da oportunidade de tomar conhecimento mais preciso do  serviço postal montado pela Família Taxis, o que lhe viria a servir de exemplo  quando da tentativa de montar uma estrutura semelhante em  Portugal.
             Entretanto, o recado de D. Manuel ao seu sobrinho Carlos, para que  levasse consigo a sua irmã Leonor à Castela, foi prontamente atendido. Com a  notícia do falecimento da Rainha Portuguesa D. Maria e a surpresa causada pelo  retorno inesperado de Pedro Correia, contribuíram para que a Corte Castelhana  não perdesse mais uma oportunidade de aprofundar a sua aliança com o seu  poderoso vizinho e assim retomar a estratégia de construção de uma futura União  Ibérica. Por seu lado, D. Manuel também aspirava ao mesmo fim, além de desejar  contribuir para uma paz duradoura na península e poder continuar com a sua  expansão ultramarina, que por essa época se achava no auge. Dessa forma, quando  o jovem Rei Espanhol prestou juramento às Cortes reunidas em Valhadolide, em  Fevereiro de 1518, enviou D. Manuel o seu Camareiro Álvaro da Costa como  Embaixador àquela Corte. Conforme nos relata Frei Luís de Sousa nos seus Anais  Del-Rei Dom João III: “sendo o mandado  público dar-lhe parabéns da vinda, foi o secreto que trabalhasse para si,  matrimónio com a Infanta D. Leonor sua irmã; e foram os poderes que lhe deu tão  largos e sem limite, que primeiro se soube em Portugal estar concluído, que  começado.”[67]
            Tendo  prevalecido esta versão na historiografia portuguesa sobre o inesperado desfecho  desse casamento, na verdade, essa proposta foi originalmente formulada pela  Corte Espanhola, servindo assim como uma luva na estratégia de D. Manuel. De  acordo com as instruções recebidas por D. Miguel da Silva – Embaixador Português  em Roma e encarregado de obter junto ao Papa Leão X uma Bula de Dispensação para  aquele casamento, exigida pela consanguinidade dos noivos – D. Manuel claramente  afirmava que a iniciativa da oferta partira de Castela. Através duma carta régia  de 29 de Maio de 1518, informava o Rei Português ao futuro Bispo de Viseu, que  Álvaro da Costa, ao visitar o Rei Espanhol, “se ofereceu lhe ser lá falado em casamento  da Infanta Dona Leonor, sua irmã, connosco.” Argumentando o monarca, que “por nos parecer pelos impedimentos que  havia e até agora há nos casamentos de meus filhos, [...] quisemos nisso entender e aceitar o quanto  da parte de lá nos foi falado e requerido”. Acrescentando ainda, que  comunicasse ao Papa que “folgamos de  entender neste casamento para que fomos requerido, quando para outras cousas se  nos apresentaram grandes impedimentos”.[68] Seria esta, uma  solução de consenso para ambas as Coroas, apesar do mal estar gerado nalguns  sectores mais próximos do Príncipe D. João, postura essa bem exemplificada pelo  caso de D. Luís da Silveira – seu Conselheiro e futuro Conde de Sortelha – que  acabou sendo desterrado da Corte por D. Manuel, por haver patenteado o seu  desagrado.[69]
            Não  ficaram por aí os entendimentos sobre esse casamento. O Embaixador Álvaro da  Costa confirmara a D. Manuel a ideia já ventilada por Pedro Correia, de que  seria necessário fazer uma considerável despesa para com os Conselheiros do Rei  Espanhol para a viabilização daquele enlace. Dessa maneira, D. Manuel instruiu o  seu Embaixador em Castela por carta régia de 28 de Abril do mesmo ano de 1518,  que “posto que em nossas cousas não  tenhamos este costume como sabeis, pero pelo que nisso vos temos mandado que  fizésseis e tendes feito e falado com o Chanceler, e pelo ponto em que este  negócio já está e porque mais prestes se conclua, nós havemos por bem de a  Chièvres e ao Chanceler, fazermos mercê de vinte mil cruzados.”[70]
             Entretanto, haveria ainda mais uma outra despesa significativa, sendo  agora para com o célebre Papa Leão X, que naquele tempo se achava empenhado em  obter maiores recursos para poder concluir a Basílica de São Pedro, e por outro  lado continuar a enriquecer as suas preciosas colecções de arte. Tendo sido  esta, uma das razões da reacção de Martim Lutero contra a venda de novas  indulgências para aquele fim, a ela não pode escapar D. Manuel ao requerer  através do seu Embaixador em Roma, a tal Bula de Dispensação tão necessária à  legitimidade do seu casamento.
            Nesse  sentido, a instrução do Rei Português fora para que D. Miguel da Silva gastasse  “até oito ou dez mil cruzados se tanto se  houver mister despender nisso”, contudo “vós, como sempre nos servis tanto a nosso  prazer, vede se isto se pode fazer grátis ou ao menos com pouca cousa”.[71] Sobre a  entrevista para o pedido daquela Bula pelo futuro Bispo de Viseu ao Papa Leão X,  o Embaixador Português narrava que “Sua  Santidade não se espantou nada porque havia quatro ou cinco dias que o Núncio  lhe escrevera fumo disto, mas mostrou tanto prazer que cuidei certo que me havia  de despachar tornando-me em cima dinheiro.”[72] De facto, D.  Miguel relatava que o Papa “respondeu-me  que era contente e que a dispensação se fizesse, mas que aparelhasse muitos mil  ducados”, ao que respondera o embaixador “que cria que Sua Santidade zombava e me  queria fazer estimar mais a graça, pois se me em falar de siso e pedia quinze  mil ducados, então de siso mais pedia que me fazia medo.” Depois de muita  barganha, “ por derradeiro desceu a  quatro mil, jurando-me de verdade que por menos um real a não havia de haver e  dizendo-me que lhe mostrasse a carta de Vossa Alteza e que me prometia de me  quitar dois mil ducados da comissão que por ela me dava,” a qual o  embaixador ponderou que “não lhe podendo  mostrar a carta que me tanto mais larga comissão dava [...] não me pareceu desserviço de Vossa Alteza  aceitá-la a Bula e acerca da paga disse que eu não tinha mais de três mil; que  aprouvesse a Sua Santidade os mil descontar da dívida que me devia. Foi disso  contente e assim houve a Bula”. Informava ainda D. Miguel, que a remeteria à  Corte de Castela por um correio expresso, conforme as ordens recebidas, e que “se for com tamanha presteza como aqui foi  despachada e mandada, bem irá, que nunca se viu em um mesmo dia haver o correio  e despachar Bula, e despachar outro" correio.[73]
             Finalmente e depois de tantas peripécias, consumou-se o casamento em  Novembro daquele ano de 1518, ocorrendo, porém, lograr-se prematuramente os  intentos de Rei Português, devido ao seu falecimento três anos depois a 13 de  Dezembro de 1521.
             Contudo, cerca de um ano antes, por carta régia datada de 6 de Novembro  de 1520 em Évora, ordenava D. Manuel “que  havendo nós respeito aos serviços que temos recebidos e ao diante esperamos  receber de Luís Homem, Cavaleiro de nossa Casa, e por ser pessoa que no Ofício  de Correio-Mor de nossos Reinos nos saberá bem servir e assim a todos mercadores  e pessoas que quiserem enviar cartas de umas partes para outras, e com todo  recado, fieldade e segredo que para tal caso cumpre, e querendo-lhe fazer graça  e mercê: temos por bem e o damos novamente,[74] daqui em diante,  por Correio-Mor em nossos Reinos”.[75] Culminava-se  desta forma, o processo iniciado anos antes quando Luís Homem, ao servir como  soldado no Oriente e depois como mensageiro real pela Europa afora, acabava por  ver recompensado os seus serviços através de um novo estatuto social. Passando  então a ser um nobre, como cavaleiro da casa real, recebeu ainda um ofício  público inédito em Portugal e claramente inspirado no modelo da Família Taxis.  Conforme afirmava D. Manuel na mesma carta régia: “queremos e nos praz que ele tenha com o  dito ofício, todos os privilégios, graças e liberdades que os Correios-Mores tem  nos outros reinos onde os há e soi de haver”. Para uma melhor compreenção  deste importante diploma, especificaremos a seguir os seus principais  dispositivos.
            Quanto  às suas obrigações, Luís Homem teria que “dar continuadamente em nossa corte e assim  ter por si pessoa que por ele esteja na nossa Cidade de Lisboa, e de ter sempre  todos os correios que forem necessários para irem a quaisquer partes que seja,  assim com cartas nossas, como de quaisquer mercadores e pessoas que lhas  quiserem dar”. Entretanto, como  remuneração deste trabalho, “levará por  isso o preço que se com cada pessoa concertar segundo a disposição do tempo e os  lugares para onde as tais cartas houverem de ir e o tempo em que quiserem que  lhas levem”.
            Para a  garantia do monopólio postal, especificava que “nenhum mercador nem pessoa outra, não  poderá fazer correio que leve cartas para nenhuma parte de que se haja de levar  porte, senão por mão do dito Luís Homem, salvo se quiserem mandar suas cartas  por outras pessoas que não sejam correios, pode-lo-ão fazer”. Ou seja, não  se impedia a troca de correspondência em geral, somente salvaguardava o ofício  específico de “mensageiros correios” franqueando, por assim dizer, os “moços de  recados”. Alertava-se, porém, “sob pena  de qualquer que os ditos correios fizer, pagar cem cruzados por cada vez, a  metade para a nossa câmara e a outra metade para o dito Luís  Homem”.
            Como  proventos do seu ofício, Luís Homem “levará aos correios que assim fizer, o  dízimo do que houverem de portes das ditas cartas, como se custuma levar nas  outras partes, e será obrigado de os encaminhar e fazer agasalhar, e lhe  arrecadar e fazer bons seus portes, de maneira que não possam perder nenhuma  cousa”. Por outro lado, como acima foi referido, “este dízimo levará aos correios que ele  tiver somente, e os mercadores poderão dar suas cartas e enviá-las por quaisquer  pessoas que quiserem, não sendo os próprios correios que o dito Luís Homem  tiver”.
            E para  o bom funcionamento das carreiras de postas que seriam criadas, ordenava ainda  El-Rei D. Manuel: “e assim nos praz para  melhor aviamento dos ditos correios, que nos lugares de nossos reinos onde  parecer ao dito Luís Homem que são necessários cavalos de postas, haja em cada  lugar até dois homens obrigados a terem os ditos cavalos e de os darem aos ditos  correios por seu dinheiro; e estes queremos que sejam excusos de todos os  encargos do concelho, como se tivessem disso privilégios por nós assinados e  passados pela nossa chancelaria”, especificando ainda, que “estes homens privilegiados, serão nos  lugares que nós, por nosso regimento, ordernarmos.” [76]
             Entretanto, no que consistiria então  um ofício de Correio-Mor? Antes de mais nada, num ofício de natureza pública. Ou  seja, através da criação e provimento dos mais diversos e variados ofícios  públicos por parte dos soberanos portugueses durante o antigo regime (entre os  séculos XV e XVIII), procurava a coroa, então em franco processo de  centralização política, delegar poderes e funções em áreas em que o poder real  ainda não podia organizar-se e expandir-se de forma satisfatória, por não ter  ainda uma estrutura funcional ampla. Surgia dessa maneira, a génese da moderna  burocracia. Os ofícios públicos, então criados, tinham um carácter de  património, onde a pessoa que o servia possuía a sua “função” caracterizada “como um conjunto de direitos e deveres  exercitáveis no interesse público”.[77] Assim sendo, a ideia do monopólio postal na mão  de um único indivíduo, vinha suprir uma necessidade embrionária de uma estrutura  de correios organizada para servir o público em geral e aos mercadores em  particular, abrindo caminho para o seu desenvolvimento. Por outro lado,  constituía uma solução racional por parte do Estado, tendo em vista a  impossibilidade da coroa em arcar com o ónus da criação de uma infra-estrutura  postal pública permanente, permitindo dessa forma, o recurso à iniciativa de  particulares para superar lacunas da sua administração. Por outro lado, o  provimento dos ofícios públicos correspondia também ao reconhecimento régio da  dedicação e fidelidade dos seus vassalos mais prestimosos, ou seja, tais  provimentos serviam também como compensação de serviços relevantes prestados à  coroa.
            Entretanto, há que chamar a atenção  para um outro facto da maior importância. A criação do ofício de Correio-Mor,  não surgia de uma necessidade premente de melhoramento do serviço de  comunicações da coroa, conforme se poderia presumir dentre as obrigações de Luís  Homem, e que consistia em “ter sempre  todos os correios que forem necessários para irem a quaisquer partes que seja,  assim com cartas nossas, como de  quaisquer mercadores e pessoas que lhas quiserem dar”.[78] A razão seria  porque a coroa já possuia naquela época, um serviço para o transporte da sua  correspondência praticado pelos “moços de estribeira”, cuja responsabilidade  estava a cargo de um alto funcionário da casa real, o Estribeiro-Mor. Nesse  tempo, os moços de estribeira supriam praticamente toda a necessidade de  “correios” da corte, sendo Luís Homem uma rara exceção por não pertencer ao seu  número. Porém, o seu sucessor - Luís Afonso - será escolhido dentre os moços de  estribeira que já serviam a casa real. Ele exercia esta função pelo menos desde  1514,[79] conforme veremos  mais adiante. Assim sendo, mais que suprir uma necessidade de Estado, a criação  do ofício de Correio-Mor veio, em primeiro lugar, preencher uma lacuna na  organização de um serviço postal regular para o público em geral, vindo  posteriormente complementar e melhorar as necessidades de comunicação da  coroa.
            Na organização do seu ofício,  procurou Luís Homem criar a infra-estrutura necessária ao estabelecimanto de uma  carreira de postas até a fronteira com Espanha, para a recepção e escoamento da  correspondência entre Portugal e o estrangeiro. Como icentivo aos ocupantes do  cargo de Mestre de Postas, o novo monarca D. João III, por carta régia de 22 de  Agosto de 1522, determinou os privilégios de que gozariam os Mestres de Postas  nomeados pelo Correio-Mor e que teriam a seu cargo a responsabilidade pelo  fornecimento das montarias necessarias aos correios e viajantes. Estes  privilégios consistiam numa série de isenções de natureza tributária e de  obrigações civis, tais como 
            Entretanto, com a morte do Rei D.  Manuel em 1521 e a ascensão ao trono do seu filho, D. João III, surgiu a  necessidade da confirmação do ofício pertencente a Luís Homem. Com a mudança de  reinado, era norma que os ofícios públicos passassem por um processo de  confirmação atravez de uma nova carta régia de nomeação. Conforme havia  determinado D. Manuel na sua carta, o privilégio de Luís Homem “será enquanto nossa mercê for ao ter e  servir o dito ofício”,[80] o que significava  juridicamente, a restrição exclusiva da mercê ao reinado daquele falecido  soberano. Assim, Luís Homem haveria de obter uma nova nomeação, para poder  garantir o seu privilégio no novo reinado. Desta forma, esplica-se o facto da  existência de uma outra carta régia feita em Tomar, datada de 2 de Agosto de  1525, nomeando o mesmo Luís Homem como Correio-Mor do Reino, mas agora com uma  melhor definição das funções do seu ofício.
            Havendo constatado D. João, “quanta necessidade em estes meus reinos há  de neles haver correios e pessoas que com toda a fieldade e diligência levem  cartas e recados, assim do que a meu serviço toca, como do que toca a negociação  dos tratos e mercadorias dos ditos meus reinos e mercadores que nele tratam; e  olhando como com ajuda de nosso Senhor os ditos tratos nele vão em grande  crescimento, hei por bem e me praz que em minha corte e em minha Cidade de  Lisboa, se façam e ordenem os ditos correios, e porque para os bem ordenar e  enviar e se saber os que vão e vêm, e quando partem e tornam, é ncessário haver  Mestre e Correio-Mor deles, confiando de Luís Homem, Cavaleiro de minha casa,  que em isto e no mais do que o encarregar me há assim bem de servir, e como  sempre fez em todas as cousas de que o tenho encarregado; e bem assim, havendo  respeito a seus serviços, por lhe fazer graça e mercê, tenho por bem e o faço  Correio-Mor em meus reinos, assim e pela guisa e maneira e com aqueles  privilégios, liberdades e graças que os Correios-Mores têm nos outros reinos  onde os há.” [81]
É interessante notar, que nestas  duas cartas régias estão presentes alguns dos princípios gerais que nortearão e  servirão de base a toda a legislação futura que regulará tanto o ofício de  Correio-Mor do Reino, como, após a sua passagem para o Estado nos finais do  século XVIII, os regulamentos  da  Administração Geral dos Correios. Um bom exemplo são os privilégios dos  estafetas correios que sobreviverão ainda até meados do século  XIX.
            Durante a gestão do Correio-Mor Luís  Homem, foi logo estruturada a linha postal até à fronteira de Elvas, por onde  escoava através da Espanha, praticamente toda a correspondência de Portugal para  o resto da Europa. Aliás, a preferência dada ao correio terrestre sobre a  correspondência marítima, foi muito bem assinalada por Fernand Braudel na sua já  citada obra sobre o mundo mediterrânico no século XVI,[82] onde afirma que: "As grandes velocidades, 200 Km, ou mais,  por dia, só são realizáveis no mar [...]. Em terra, à parte as excepções, as  grandes velocidades são menores, mas mais regulares do que no mar, a tal ponto  que para as ligações postais, o caminho terrestre, mais difícil, é preferido em  detrimento do caminho marítimo. As maiores velocidades, na Europa, são  provavelmente realizadas pelos correios da organização postal de Gabriel de  Taxis, no percurso Itália-Bruxelas, via Tirol, percurso estudado com cuidado,  onde os tempos de estacionamento são reduzidos ao mínimo e onde, no Eifel,  nomeadamente, são utilizados regularmente atalhos bem explorados. O traçado  desta rota é já, em si, um recorde. E os seus 764 Km são percorridos em cinco  dias e meio, ou seja, a cerca de 139 Km por dia."[83]
            Será numa dessas viagens por terra,  que o correio Luís Afonso (futuro sucessor de Luís Homem no ofício de  Correio-Mor do Reino) será vítima da violação do seu estatuto ao ser preso em  Valadolid, no Verão de 1522, quando grassava a guerra entre Carlos V e Francisco  Iº de França. Ao ser interceptado, transportava Luís Afonso, além da  correspondência régia, cartas de particulares escritas em francês, as quais  levantaram suspeitas às autoridades espanholas. D. João III logo protestou junto  à corte de Madrid, enviando uma carta em 5 de Outubro de 1522 ao seu embaixador  em Espanha, Luís da Silveira, "encarregando-o de manifestar ao imperador o  desgosto que a ocorrência lhe causou, e de afirmar que 'não esperaríamos que  correio que com nossas cartas fosse, se houvesse de prender em sua corte, nem  ser tão maltratado, porque confiança se devia ter que em nossas cartas não havia  de irem coisas de que com razão devesse receber descontentamento ...' e  acrescentar ainda que em Portugal se não faria nunca a um correio do Imperador o  que se praticara com o nosso."[84]
[1] Carta de João Brandão (escrivão de uma embaixada à Flandres) a El-Rei D. Manuel, escrita em Bruxelas a 30 de Março de 1517. Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte 1ª, Maço 21, Doc. 72.
[2] Cf. Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte 1ª, Maço 13, Doc. 40.
[3] Gaspar Correia, Lendas da Índia, Vol. II, Porto, 1975, p. 131; Ásia de João de Barros, Segunda Década, Lisboa, 1974, pp. 221 e 222; e Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, Parte III, Coimbra, 1926, p. 34.
[4] Comentários de Afonso de Albuquerque, Tomo I, Lisboa, 1973, p. 263.
[5] Sobre Tomé Lopes, mercador, vide Anselmo Braamcamp Freire, Notícias da Feitoria de Flandres, Ed. Arquivo Histórico Português, Lisboa, 1920, nota nº 4 da p. 99.
[6] Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte 1ª, Maço 13, Doc. 40.
[7] Sobre Lourenço Lopes, vide Braacamp Freire, opus cit., pp. 114 e 115.
[8] Sobre Tomé Lopes de Andrade, ibidem, pp. 22 e 88 a 91.
[9] Gaspar Correia, Lendas da Índia, Vol. II, p. 131; Ásia de João de Barros, Segunda Década, pp. 221 e 222; Fernão Lopes de Castanheda, História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, Porto, 1979, pp. 574 e 575; e Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, Parte III, p. 34.
[10] Cf. Ata do Conselho de 10 de Outubro de 1510, in Cartas de Afonso de Albuquerque, Tomo II, Lisboa, 1898, pp. 6 a 11.
[11] Comentários..., Tomo I, p. 262; Gaspar Correia, Lendas..., Vol. II, p. 134; e Damião de Góis, Crónica..., Parte III, pp. 35 e 36.
[12] Cf. Ásia de João de Barros, Segunda Década, p. 223; Castanheda, História..., p. 587; e Comentários..., Tomo I, pp. 274 a 277.
[13] Comentários..., Tomo I, p. 277.
[14] Gaspar Correia, Lendas..., Vol. II, p. 138.
[15] Comentários..., pp. 283 e 284.
[16] Cartas de Afonso de Albuquerque, Tomo I, pp. 24 e 25.
[17] Ibidem, p. 432.
[18] Sobre esta problemática vide Marques de Almeida, Capitais e Capitalistas no Comércio da Especiaria, Lisboa, Ed. Cosmos, 1993, p. 24.
[19] Vide “Sumários das Cartas da Índia de Afonso de Albuquerque e Outros, que trouxe Conçalo de Sequeira” in Cartas de Afonso de Albuquerque, Tomo I, pp. 419 e 430, como também Gaspar Correia, Lendas..., Vol. II, p. 156.
[20] Cf. carta de D. Manuel ao Bispo de Segóvia in Cartas de Afonso de Albuquerque, Tomo III, pp. 20 e 21, e ainda: Carta de D. Manuel I ao Rei de Aragão, D. Fernando, sobre a Tomada de Goa, edição e notas de Virgínia Rau e Eduardo Borges Nunes, Lisboa, 1968. Neste último trabalho, ficou comprometida a análise que os autores fizeram desta desconhecida carta ao Rei de Aragão, por terem consultado unicamente os dois primeiros tomos das Cartas de Afonso de Albuquerque, passando dessa forma desapercebida a missiva endereçada ao Bispo de Segóvia publicada no tomo III, que complementava as notícias anunciadas naquela carta ao Soberano Espanhol.
[21] Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte 1ª, Maço 13, Doc. 40.
[22] Ibidem.
[23] Sobre o sistema de Quintaladas e Camarotes, vide Vitorino Magalhães Godinho, Os Descobrimentos e a Economia Mundial, Vol. III, Lisboa, Ed. Presença, 1982, pp. 59 e 60.
[24] Ibidem, p. 58.
[25] Cf. o alvará publicado por Braamcamp Freire in Notícias da Feitoria de Flandres, p. 104.
[26] Damião de Góis, Crónica..., Parte IV, p. 73.
[27] Braamcamp Freire, Notícias..., pp. 88 e 89; e Marques de Almeida, Capitais e Capitalistas..., pp. 30 e 31.
[28] Braamcamp Freire, opus cit., pp. 95 e 96; e Doc. XXVII a pp. 170 e 171.
[29] Ibidem, pp. 104 e 105.
[30] Ibidem, Doc. LV, p. 221.
[31] Ibidem, p. 17.
[32] Ibidem, pp. 17 a 22.
[33] Sobre Cristóvão Barroso, vide Damião de Góis, Crónica..., Parte IV, p. 2.
[34] Conde Dom Fernando de Andrade, nobre castelhano que o Rei Carlos I de Espanha acolheu muito bem quando da sua visita à Bruxelas para lhe prestar vassalagem, sendo então nomeado Capitão Geral de Castela, cf. doc. infra.
[35] Carta de Rui Fernandes ao Rei D. Manuel de 6 de Maio de 1516, in Maria do Rosário de Sampaio Themudo Barata, Rui Fernandes de Almada Diplomata Português do Século XVI, Lisboa, 1971, pp. 182 e 183.
[36] Cf. minuta da carta de D. Manuel para Tomé Lopes, in Braamcamp Freire, Notícias..., Doc. LVII, p. 222.
[37] Cf. Torre do Tombo, Fragmentos, Minutas de Cartas Régias, Maço 1, nº 88.
[38] Sobre Francisco de Taxis vide Berthe Delépinne,  “La Poste Internationale en Belgique sous les Grands Maitres des Postes de la  Famille de Tassis” in Une Poste  Europeenne avec Les Grands Maitres des Postes de la Famille de la Tour et  Tassis, Musée Postal, Paris, 1978, p. 20.
[39] Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte 1ª, Maço 20, Doc. 8.
[40] Carta de Rui Fernandes ao Rei D. Manuel, de 6 de Maio de 1516, in Themudo Barata, Rui Fernandes de Almada..., pp. 182 e 183.
[41] Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte 1ª, Maço 21, Doc. 82.
[42] Ibidem.
[43] Torre do Tombo, Fragmentos, Minutas de Cartas Régias, Maço 1, nº 88.
[44] Ibidem.
[45] Ibidem.
[46] Cf. Braamcamp Freire, Notícias..., pp. VI, 3, 223 e 224.
[47] Ibidem, Doc. LXIV, p. 227.
[48] Cf. Relações de Pero de Alcáçova Carneiro, Conde da Idanha, do Tempo que Ele e seu Pai, António Carneiro, Serviram de Secretários (1515 a 1568), Ed. de Ernesto de Campos de Andrada, Lisboa, 1937, p. 195.
[49] Crónica..., Parte IV, p.  49.
[50] Braamcamp Freire, Notícias..., p. 223.
[51] Ibidem, Doc. LXII, p. 225.
[52] Ibidem.
[53] Góis, opus cit., Parte IV, p. 73.
[54] Braamcamp Freire, Notícias..., Doc. LXII, pp. 225 e 226.
[55] Ibidem, p. VII.
[56] Ibidem, Doc. LXV, p. 229.
[57] Ibidem, Doc. LXVIII, p. 233.
[58] Ibidem, Doc. LXIII, p. 227.
[59] Ibidem, Doc. LXXII, p. 236.
[60] Ibidem, Docs. LXX a LXXVI e LXXIX a LXXXI, pp. 234 a 244.
[61] Arquivo Histórico da Fundação Portuguesa das Comunicações, Documentos dos Séculos XIII a XIX Relativos a Correios, Coligidos por Godofredo Ferreira, Vol. I, Doc. 15.
[62] Torre do Tombo, Cartas Missivas, Maço 2, Doc. 155.
[63] Braamcamp Freire, Notícias..., Doc. LXXXIII, p. 247.
[64] Ibidem, Doc. LXXVIII, pp. 241 e 242.
[65] Ibidem, Doc. LXXXII, p. 246 e Torre do Tombo, Cartas Missivas, Maço 2, Doc. 155.
[66] Sobre esta Embaixada, vide também Braamcamp Freire, Gil Vicente Trovador Mestre da Balança, Lisboa, 2ª ed., 1944, pp. 129 a 132.
[67] Opus cit., Pub. por Alexandre Herculano, Lisboa, 1844, p. 16.
[68] Cf. minuta da carta régia in Corpo Diplomático Português, Tomo II, Lisboa, 1865, p. 10.
[69] Cf. Frei Luís de Sousa, Anais..., p. 18.
[70] Cf. minuta da carta régia in As Gavetas da Torre do Tombo, Vol. XI, pp. 205 e 206.
[71] In Corpo Diplomático Português, Tomo II, Lisboa, 1865, p. 11.
[72] Ibidem, p. 16.
[73] Ibidem, p. 17.
[74] Novamente no sentido antigo de novidade, de fazer pela primeira vez e não no actual significado de tornar a fazer. Cf. António de Morais Silva, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 10ª ed., Lisboa, 1954.
[75] Torre do Tombo, Chancelaria de D. Manuel, Livro 37, fl. 98.
[76] Idem, doc. cit.
[77]  António Manuel Hespanha, História das  Instituições, Coimbra, Ed. Almedina, 1982, p.  394.
[78] Torre do Tombo, Chancelaria de D. Manuel, livro 37, fl. 37v. O grifo é nosso.
[79] Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte 1ª, maço 16, doc. 25.
[80] Ibdem, Chancelaria..., doc. cit.
[81] Torre do Tombo, Chancelaria de D. João III, Livro 8, fl. 94.
[82] Ver  supra, nota 1.
[83] Op.  cit., pp. 404 e 405.
[84]  Godofredo Ferreira, Dos Correios-Mores  ..., p. 18.
